sexta-feira, 11 de junho de 2010

Estatística: Ciência (In)Exata ou Arte (Circense)?

Deu na Voz do Brasil: PIB DO BRASIL APRESENTA CRESCIMENTO DE 9%.

Desde minhas primeiras incursões sérias nas ciências exatas, aprendi que a estatística é uma arte: a arte de torturar os números até que eles digam o que você quer. E analisando friamente, pode-se perceber que essa singela afirmação se investe de uma verdade irrefutável. A estatística é como a idiotice, pode ser usada para o bem ou para o mal.

Não me refiro aqui às estatísticas acadêmicas, aquela praticada nas universidades por estatísticos que passam a vida estudando como se comportam as amostras em relação ao todo e, principalmente, tentando desenvolver algoritimos que os ajudem a ter mais chances de prever com exatidão os resultados da mega-sena e não precisarem mais do pífio salário de pesquisador que só uma "potência" como o Brasil pode pagar.

A estatística não se faz de uma frase solta num programa jornalístico tendencioso, mas, de uma completa gama de premissas e raciocínios que juntos elaboram uma idéia de um cenário geral. Senão vejamos o caso da nossa Ilha de Vera Cruz. O Alarde que nosso querido Luís Inapto fez sobre o assombroso crescimento de 9% calou quando ele completa a notícia com o restante da informação dito rápido e quase sussurrado. Em se tratando de e-mail ou mensageiros instantâneos seria como se o Primeiro Molusco da Terra Brasilis te mandasse uma mensagem assim: "OS PIB DO BRASIL CRESCÊRO 9%!!! NUNCA ANTES NA HISTÓRIA DESSE PAÍS UM PIB CRESCEU TANTO ASSIM... em relacão ao primeiro trimestre do ano passado, companheiro".

E qual o problema da comparação com o primeiro trimestre do ano passado? Nenhuma tirando que era o segundo trimestre da tal MAROLINHA. Talvez por conta das lulas serem animais marinhos de águas semi-profundas, o Luís Inapto não entenda tanto de ondas, marolas e marés. O fato é que o "país" cresceu 9% em relação a um trimestre caracterizado por ser o auge da incerteza e da retração dos investimentos. Ou seja, 9% foi praticamente uma obrigação, principalmente se a tal crise teve mais impacto moral do que de fato como se noticiou.

Mas o que a estatística de crescimento tem a ver com sacanagem, que é o tema principal desse humilde blog? Quer dizer, além da sacanagem que foi o Todo-Poderoso Onignorante soltar uma notícia dessas com a cara mais deslavada.? É que deu no Mulher 7x7 uma pesquisa sobre infidelidade masculina!!! Taí o que você queria: Sacanagem!

Em resumo(olha o perigo estatístico: o resumo), a pesquisa foi feita por uma psicanalista francesa que apartir da análise dos homens que frequentavam seu consultório, e classificou os homens segundo cinco perfis distintos:
  • O monogâmico mentiroso e infiel (ama a familia, não quer se separar e tem aventuras sem importância)
  • O Polígamo ansioso (quer levar todas as mulheres para sua cama)
  • O Infiel Crônico (que ama todas as suas amantes e nunca se decide)
  • O Fiel Cativo e Obsessivo (fiel e ciumento extremo)
  • O Feliz e satisfeito (raro)

Minha grande surpresa não foi o estudo em si - apesar de ser o primeiro estudo sobre o tema que compactuava em muito com minhas opiniões sobre o tema - mas sim a reação das pessoas. Praticamente 90% das pessoas discordaram do estudo. E quando 90% das pessoas discordam de um estudo estatístico, ou o estudo está errado ou a percepção das pessoas sobre este está equivocada.

A meu ver, as pessoas se preparam pra ler já com uma opinião firme e indispostas a revê-la. Ao ver a palavra infidelidade, as meninas automaticamente se vestiram com sua armadura de "QUE ABSURDO! LÁ VEM MAIS UM ESTUDO RIDICULO TENTANDO JUSTIFICAR A POSTURA DOS MACHOS!" e com isso, não prestaram atenção no que o estudo revela. A psicanalista francesa, quis, no frigir dos ovos (ou no roçar dos ovos, só pra aumentar o teor sacana do post que já está prá lá de sério) mostrar às mulheres que apartir do momento que ela consegue classificar o seu homem em uma das categorias ela pode definir melhor como agir.

O estudo em si, não revela a evolução do macho. É perfeitamente viável o homem evoluir do monogâmico mentiroso para o Feliz e Satisfeito - digo por experiência própria, mesmo que ainda esteja no inicio da transição, portanto, candidatas apressem-se - O estudo também é unilateral, só tratou dos perfis do homem. Daí, as mulheres têm a noção de que elas que tem que agir em função do papel que o seu "homem" escolheu. Acho que a grande lacuna cometida pela psicanalista francesa foi não ter feito a mesma análise em relação à suas clientes. Com os dois perfis em mão, seria possível fazer um casamento (para fins de acasalamento) entre que perfis da mulher combinam mais com quais perfis do homem.

Já do lado de quem lê a proposta da francesa, o grande furo é de interpretação, de ler entrincheirado em suas convicções, mas, principalmente, de achar que esta se propõe a ser a grande solução milagrosa para os problemas de relacionamento. Relacionamento pressupõe a combinação de tantas nuances e aspectos diferentes, que é praticamente impossível se definir modelos que se ajustem perfeitamente. E, o pior, ao contrário dos computadores que são binários, cada aspecto desse assume infinitos graus de impacto sobre o outro e são mutáveis ao longo do tempo em ambas as partes.

Ou seja, a tendência natural de um relacionamento é mudar, por conta das mudanças que as pessoas sofrem. Assim, não encare estudos tão específicos quanto esse da personalidade humana como um fim, mas como subsídio para tentar entender aquela pessoa tão difícil de ser compreendida: você mesmo!

[]s
O Carioca
PS: Eu juro que falo alguma sacanagem no próximo post.